O verdadeiro mal-estar é a obsessão pelo controle: vamos aprender a nos abandonar um pouco mais ao caos
A incerteza e a insegurança são condições que geram ansiedade e desassossego, por isso tentamos remediar tudo com o planejamento adequado e adotando uma rotina previsível.
Mas isso é apenas uma ilusão, pois não é possível prever ou determinar todos os eventos, muito menos orientar as escolhas e o comportamento das pessoas ao nosso redor. A fonte do verdadeiro mal-estar reside precisamente na obsessão pelo controle, quando a vida segue o caminho do caos.
No começo, pode ser muito difícil abandonar uma vida toda programada, porque isso, como muitos outras coisas, é uma forma de dependência, que causa crises de abstinência e requer longa desintoxicação. Temos a ilusão de poder traçar um caminho claro para nós mesmos e para os outros, por inveja, proteção ou uma simples manifestação de vontade.
As crianças, por exemplo, não podem ser defendidas por tudo e por todos, porque também precisam de espaço para cometer suas experiências, seus erros, ter sua parcela de surpresas, decepções, alegrias e tristezas. Da mesma forma, você não pode manter um parceiro em uma gaiola com a intenção de evitar a traição ou o fim do amor. As coisas correrão como devem; na verdade, corremos o risco de provocar ou acelerar situações que poderiam não ter ocorrido.
Entregar-se um pouco mais ao caos (e ao acaso) não significa resignar-se a se jogar como uma folha ao vento, vítimas e fantoches de uma força misteriosa que fará o que quer. Renunciar ao controle significa, antes de mais nada, entender os limites do que está ao seu alcance, deixando a natureza seguir seu curso, quando o instinto sugere.